De 24 a 28 de julho, realizou-se a I Semana Provincial de Liturgia com a participação de membros das Dioceses de Pouso Alegre, Guaxupé e Campanha na Comunidade Sol de Deus, em Itajubá, MG, refletindo o tema “Sacramentos de Iniciação Cristã e Liturgia”. O encontro, que tem a parceria da Faculdade Católica de Pouso Alegre, contou com 92 participantes e tem como objetivo aprofundar a riqueza dos Sacramentos do Batismo, Crisma e Eucaristia, em suas dimensões teológica, litúrgica e pastoral.
Após o momento de acolhida e entrosamento e a oração de abertura, o Arcebispo Metropolitano de Pouso Alegre, Dom José Luiz Majella Delgado, C.Ss.R., deu as boas-vindas e falou respeito da importância dos Sacramentos de Iniciação Cristã na vida da Igreja. Em seguida, Pe. Vanildo de Paiva fez uma introdução geral sobre o tema, encerrando o dia com o filme “Matemática do Diabo” e que suscitam reflexões sobre a ritualidade/sacramentalidade.
A reflexão sobre a iniciação à vida cristã entrou na agenda da Igreja do Brasil não como um tema a mais, entre tantos desafios pastorais, mas como a grande questão a ser pensada. As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2015-2019 (Doc. 102 da CNBB) consideram a Igreja como “casa da iniciação cristã”, e recorda que a iniciação não se esgota na preparação do sacramento do Batismo, Confirmação e Crisma, mas se refere, principalmente, à adesão a Jesus Cristo. Por isso mesmo, nossas comunidades precisam ser mistagógicas, isto é, capazes de conduzir os novos cristãos e todos aqueles que já estão no caminho ao mergulho no Mistério de Deus (cf. n. 43), afirmou Pe. Vanildo de Paiva.
Cada dia da Semana foi dedicado a um dos Sacramentos da Iniciação Cristã. Na terça-feira, dia 25, iniciamos o dia com Santa Missa festiva em honra do Apóstolo São Tiago, presidida pelo Arcebispo, Dom Majella. Depois, Pe. Daniel Menezes Fernandes, da Diocese da Campanha refletiu na parte da manhã sobre o Sacramento do Batismo como mergulho na Vida Nova de Cristo e a consequente configuração do Batizado à Cristo. À tarde, os participantes realizaram em grupos as chamadas “vivências” com a água e a luz, elementos do Rito do Batismo, e à noite houve uma mesa redonda com participantes das três Diocese trocando experiências sobre a Pastoral do Batismo. Na quarta-feira, dia 26, Pe. Jean Poul Hansen, da Diocese da Campanha, refletiu sobre o Sacramento da Crisma em sua união indissociável com o Batismo – são dois ritos/sacramentos para celebrar um único evento/mistério – mostrando como a prática atual se distanciou da Igreja primitiva. Na parte da tarde, houve “vivência” com o óleo, elemento essencial do Sacramento da Crisma e à noite os participantes fizeram o exercício da “observação participante”, na Missa do Santuário Nossa Senhora da Agonia, de Itajubá. Na quinta-feira, dia 27, o Pe. Jésus Andrade Guimarães, da Arquidiocese de Pouso Alegre, refletiu sobre o Sacramento da Eucaristia, como plenitude da Iniciação Cristã e os desafios que enfrentamos hoje na celebração deste sacramento. À tarde, novamente realizamos as “vivências” com o pão e o vinho, elementos fundamentais do sacramento da Eucaristia e à noite uma Lectio Divina sobre o Texto de Lucas 24 (Os discípulos de Emaús), antes de sairmos para uma animada festa junina, oferecida pela Paróquia São Benedito de Itajubá, na qual todos puderem se divertir e confraternizar. No dia 28, Pe. Vanildo conduziu os encaminhamentos e as conclusões da Semana que resultaram na “Carta ao Povo de Deus” e encerramos com a Santa Missa que foi presidida pelo Bispo de Campanha, Dom Pedro Cunha Cruz.
“Carta ao povo de Deus”
Nós, os participantes da I Semana Provincial de Liturgia da Província Eclesiástica de Pouso Alegre (MG), realizada na Comunidade Sol de Deus, em Itajubá (MG), de 24 a 28 de julho de 2017, experimentamos uma vez mais a bondade de Deus, que realizou maravilhas nestes dias. E podemos cantar: “Ao Senhor dos senhores cantai, maravilhas só Ele quem faz. Bom é Deus! Ao Senhor, pois, louvai! Eterno é seu amor! (Sl 136).
Sacramentos da Iniciação à Vida Cristã e Liturgia foi o tema que nos congregou, e fomos iluminados pelo lema: “Então seus olhos se abriram e O reconheceram” (Lc 24, 31).
O esforço conjunto de nossas Dioceses (Campanha, Guaxupé e Pouso Alegre) fundamentou-se na firme convicção de que falar de liturgia é proclamar nossa certeza de que ela é a primeira e mais significativa forma de transmissão de fé, que acompanha o cristão desde sua iniciação até o final da vida.
Ressoou em nosso meio a palavra de nossos bispos: “A iniciação à vida cristã depende da integração entre o processo formativo e a liturgia. A Liturgia é fonte inesgotável de formação do discípulo missionário, e as celebrações, pela riqueza de suas palavras e ações, mensagens e sinais, podem ser consideradas como ‘catequese em ato'”(CNBB, Doc. 107, n.182).
Nossos corações se aqueceram, e nossos olhos se abriram pela Palavra ouvida e celebrada, pelas vivências mistagógicas, pela convivência, pela vida fraterna, pelas partilhas de vida pessoal e comunitária, pela reflexão, pelos cantos, pela alegria, testemunho de acolhida e solidariedade.
Hoje, voltamos aos “Onze, reunidos com os outros”, aos nossos pastores e nossas comunidades, para “contar o que aconteceu pelo caminho e como conhecemos o Senhor” (cf. Lc 24, 33-35).
O que vimos e experimentamos com mais consciência?
– A centralidade do mistério pascal na sagrada liturgia e a unidade dos sacramentos de iniciação cristã;
– O Sacramento do Batismo como mergulho no mistério da vida nova e luz para toda a nossa existência histórica, pessoal e social;
– O Sacramento da Crisma, como sacramento em que o Espírito nos unge e nos envia em missão;
– O Sacramento da Eucaristia, celebração memorial do Mistério Pascal, como ponto mais alto e plenitude de todo o processo de iniciação à vida cristã;
Como desafios-oportunidades percebemos que ainda falta muito para que a tão sonhada “participação ativa, piedosa e consciente” (cf. SC 14) de todo o povo nas celebrações litúrgicas seja uma realidade em nossas assembléias. Não raras vezes as celebrações dos sacramentos da iniciação cristã acontecem com pouca ou nenhuma profundidade, o que nos desafia e mostra a urgência de uma catequese litúrgica mais eficaz. Pela deficiência da linguagem simbólica, pouca atenção à Palavra de Deus, “sucateamento” da ritualidade tão cara à tradição da nossa Igreja, má formação dos agentes litúrgicos, e de uma concepção mais social do que espiritual desses sacramentos, as celebrações se esvaziam de sua dimensão mistagógica, isto é, não se mergulha plenamente no Mistério de graça e do amor de Deus.
Que compromissos assumimos?
Certamente, sentimos “arder nosso coração” nestes dias em que mais intensamente experimentamos e rezamos a presença do Ressuscitado. Cabe-nos, agora, comunicar a todos que encontramos pelo caminho a certeza de que Ele está no meio de nós, nos educa através das Escrituras, e nos alimenta com o Pão da vida, para levarmos vida a um mundo tão necessitado dos sinais de ressurreição. Por isso, nos comprometemos, sempre contando com o apoio e participação de nossos bispos, padres e leigos(as) engajados nas pastorais: a) com a nossa formação e a de nossos irmãos e irmãs de nossas comunidades; b) com liturgias mais mistagógicas, que façam sentido e provoquem encontros transformadores com Jesus Cristo; c) com a necessária interação entre as dimensões catequética e litúrgica da ação pastoral; d) com a urgência de prestar mais atenção à realidade sofrida do nosso povo brasileiro, que precisa encontrar na experiência sacramental e litúrgica a certeza do amor do Deus da vida, que os anima a seguir sempre em frente; e) e com uma maior integração dos sacramentos da iniciação à vida cristã, teológica e pastoralmente.
Ao final da Semana, podemos comprovar que “o mistério de Deus jamais poderá ser esgotado por nossas fórmulas doutrinais, celebrativas ou pastorais” e que “mergulhar no Mistério, contemplá-Lo e saboreá-Lo é, para o cristão uma tarefa sem fim” (CNBB, Doc. 107, n. 136).
Assim, mesmo que a Semana tenha sido intensa, acreditamos que “somos neófitos permanentes” e que a compreensão maior dos sacramentos da Iniciação à vida Cristã se dará num processo de conversão contínua de nossas Igrejas, paróquias e comunidades.
Que Maria, a grande mistagoga, a virgem Aparecida, ajude-nos a viver como discípulos e missionários de Jesus Cristo, e que possamos, com mais alegria e coerência, celebrar o que acreditamos e viver o que celebramos.
Imploramos a todos as bênçãos de Deus, e pedimos que rezem por nós e por nossas comunidades”
Itajubá, 28 de julho de 2017