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O que é a Doutrina Social da Igreja?

O que é a Doutrina Social da Igreja?

Você sabia que a Igreja Católica também possui um ensinamento oficial sobre a vida em sociedade? Esse ensinamento é chamado de Doutrina Social da Igreja (DSI). Isso significa que a Igreja Católica não possui apenas uma doutrina sobre os sacramentos, a liturgia, a Trindade etc., mas também sobre a vida social da pessoa humana. A DSI, então, insere-se no grande campo da Teologia Moral e numa área específica chamada atualmente de Moral Social (cf. Solicitudo rei socialis = SRS 41).

Nesse sentido, a DSI é uma importante área da teologia católica que, em geral, reflete sobre a abrangência da salvação que nos foi conquistada por Jesus Cristo e suas implicações em todos os aspectos da vida humana. Ou seja, a fé católica entende que o Evangelho tem um profundo significado social, que o Evangelho marca por completo a vida das pessoas e provoca diretamente nossas atitudes, a fim de que sejam mais conformes à dignidade de pessoa à imagem de Deus.

Desse modo, a DSI não é apenas uma filosofia social nem mais uma dentre as várias ideologias do mundo contemporâneo. A DSI também não é uma mera opinião de alguns clérigos, da qual os católicos podem aceitar ou não. É muito mais que isso!

Como ensina a Igreja, a DSI:

  • É Magistério autêntico, ou seja, é ensino oficial da Igreja que, como tal, exige a aceitação e a adesão de todos os fiéis em sua vida diária (cf. Catecismo da Igreja Católica = CIgC 2037; Compêndio da Doutrina Social da Igreja = CDSI 80).
  • É um indispensável instrumento de evangelização e de discernimento moral e pastoral dos variados eventos da sociedade atual (cf. Centesimus annus = CA 54; CDSI 10).
  • É uma autêntica prioridade pastoral para nossos tempos, o que exige ser plenamente conhecida, amada e praticada pelos católicos (cf. Ecclesia in America = EAm 54).
  • É o evangelho da salvação integral anunciado, oferecendo princípios de reflexão, critérios de juízo e diretrizes de ação aos cristãos e demais pessoas de boa vontade (cf. CDSI 1 e 7).
  • É um direito e um dever missionário da Igreja, o que significa que o envolvimento da Igreja Católica com as questões sócio-político-econômicas não se trata de um desvio de missão e muito menos de uma mistura ingênua entre fé e política (cf. CDSI 64; Gaudium et spes = GS 43 e 76).

 

Conhecer a DSI é fundamental para cada pessoa que deseja colaborar na construção de uma sociedade mais justa e coerente à dignidade integral da pessoa humana. Talvez as convicções religiosas para esse empenho até não sejam compartilhadas pelos bilhões de seres humanos que existem no planeta, “mas as convicções morais que dele decorrem constituem um ponto de encontro entre os cristãos e todos os homens de boa vontade” (CDSI 579). Desse modo, com a DSI “não se trata de simplesmente alcançar o ser humano na sociedade, mas de fecundar e fermentar com o Evangelho a própria sociedade” (GS 40).

Vale então reafirmar que a DSI é uma parte fundamental da doutrina católica que oferece, sobretudo, uma visão integral do ser humano, anuncia a dignidade inviolável de toda e cada pessoa e introduz as realidades do trabalho, da economia, da política, dentre outras, em uma perspectiva original que ilumina os autênticos valores humanos (cf. CDSI 522). Isso significa que:

A ação pastoral da Igreja no âmbito social deve testemunhar, antes de tudo, a verdade sobre o ser humano. A antropologia cristã permite um discernimento dos problemas sociais, para os quais não se pode encontrar boa solução se não se tutela o caráter transcendente da pessoa humana plenamente revelada na fé (CDSI 527).

Numa palavra, a DSI é o evangelho social da salvação integral da pessoa humana. Como diz o Compêndio da DSI, a salvação que Jesus nos conquistou abrange também este mundo em todas as suas realidades, pois o Senhor veio trazer a salvação integral, que abrange a pessoa toda e todas as pessoas, abrindo-lhes os horizontes admiráveis da filiação divina (cf. CDSI 1). Deus não nos salva parcialmente, mas “está interessado no bem-estar completo do homem, e por isso também no desenvolvimento da comunidade na qual participa de muitos modos” (Docat 26). Assim, “já não se pode afirmar que a religião se deve limitar ao âmbito privado e servir apenas para preparar as almas para o Céu” (Evangelii gaudium = EG 182).

Em síntese, a DSI reflete sobre as múltiplas dimensões da nossa salvação e expressa o mistério do incansável amor de Deus pela humanidade. Ela deve ser compreendida em todos os seus desdobramentos, pois é uma fonte especial de luz para a vivência das virtudes teologais: fé, esperança e caridade (cf. CDSI 3). E a consequência disso é óbvia: “Ao descobrir-se amado por Deus, o homem compreende a própria dignidade transcendente, aprende a não se contentar de si e a encontrar o outro, numa rede de relações cada vez mais autenticamente humanas” (CDSI 4).

Com isso, evitam-se dois equívocos extremos: 1) o espiritualismo, que deseja a vivência de uma fé anestesiante, intimista, só de experiências subjetivas, avessas às coisas “do corpo”, “do mundo”; 2) e o materialismo, que submete a consciência e a experiência de fé a um vazio espiritual avesso às coisas “da alma”, “do céu” etc. (cf. Deus caritas est = DCE 5).

A Igreja é “perita em humanidade” (Populorum progressio = PP 11) e tem o direito e o dever de se envolver nas questões sociais (cf. CDSI 69-71). Assim, “com a sua doutrina social, não só não se afasta da própria missão, mas lhe é rigorosamente fiel” (CDSI 64).

Por fim, a DSI faz parte do grande plano de Amor do Senhor pela humanidade. Como tal, ela deve ser reconhecida, amada e vivida como uma graça singular concedida por Deus à Igreja, para que ela cumpra de maneira cada vez mais completa sua missão evangelizadora, que é atualização constante de nossa redenção. A DSI, portanto, está a serviço da missão salvífica do Amor de Deus.

 

Texto: Prof. Dr. Elvis Rezende MessiasCristão leigo da Diocese da Campanha/MG. É casado, trabalha como professor-pesquisador e é autor do livro O evangelho social: manual básico de doutrina social da Igreja (Paulus, 2020), escrito com D. Pedro Cruz, bispo da Campanha.

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