“Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam havia séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos” (Antiga Homilia no Grande Sábado Santo – Século IV)
A noite pascal é o grande “sacramento” da vida cristã. Batismo e Eucaristia que são o centro da liturgia de hoje, tornam presente e atuais os acontecimentos que celebramos e nos comunicam a vida nova do ressuscitado. Nesta noite, somo iluminados e profundamente atingidos pela luz de Cristo ressuscitado. Fazendo memória das ações maravilhosas de Deus na história, renovamentos nossa consagração batismal, pela qual somos conduzidos das trevas à luz admirável de Cristo. Celebramos a Páscoa de Jesus Cristo, “solenidade nova e universal, festa do coração, assembleia de toda a criação, alegria e honra do universo”.
A solene Vigília Pascal na Paróquia Santo Antônio, sé episcopal de Campanha, foi presidida pelo bispo diocesano, Dom Pedro Cunha Cruz e concelebrada pelo pároco e chanceler da cúria, Cônego Luzair Coelho de Abreu. A missa cantada pelo Coral Catedral, sempre presente nas principais celebrações da paróquia. Também estiveram presentes os ministros da comunhão que atuam na paróquia e a Irmandade do Santíssimo Sacramento.
A Vigília Pascal
A Vigília Pascal é o coração de todo ano litúrgico católico. É a celebração mais importante do ano. É a vigília das vigílias! Ela possui uma estrutura diferente das missas.
A celebração se inicia do lado de fora da Igreja (em Campanha é feita no adro da Catedral), onde é realizada a bênção do fogo novo: o Círio Pascal, representação do Cristo, luz das nações, é preparado e abençoado. Em seguida é entronizado solenemente na igreja pelo presidente da celebração. Após incensação do círio, o presidente da celebração canta o Exultet, a Proclamação da Páscoa, também chamado de Precônio Pascal.
A Liturgia da Palavra é composta de 8 leituras e 8 salmos. As leituras e os salmos narram a história da salvação e das maravilhas realizadas por Deus, até chegar a Cristo. São 7 leituras do Antigo Testamento e uma do Novo Testamento. Durante a Liturgia da Palavra é entoado solenemente o Hino de Louvor, canto que durante a quaresma não era entoado. Antes do Evangelho, o presidente da celebração entoa solenemente o Aleluia que significa: Louvemos a Deus. É o momento da explosão de alegria.
Após a Liturgia da Palavra é realizada a liturgia batismal. A Igreja, desde os primeiros séculos, ligou a noite pascal com a celebração do batismo. Toda a celebração é estrutura sobre o tema do Batismo e nossa vida em Cristo Ressuscitado. O batismo é, nas palavras de Paulo aos romanos, um mergulhar na morte com Cristo para ressurgir com a nova vida da graça, como cidadãos do Reino. Paulo também convida quem já foi batizado a fazer morrer o “homem velho” (símbolo de tudo que em nós ainda precisa ser transformado pela força do Evangelho) para nascer sempre, continuamente, para a novidade da esperança na paz, para a fé nas promessas do Reino. Na paróquia de Campanha, a jovem Bruna recebeu os sacramentos de Iniciação Cristã: foi batizada, recebeu a unção crismal e comungou pela primeira vez.
A celebração prossegue com a Liturgia Eucarística. E a celebração se encerra com a bênção solene. A bênção presidencial não foi realizada na missa da Ceia do Senhor, nem na Ação Litúrgica da Sexta-feira. Ao final da Vigília, encerrando o Tríduo Pascal, o bispo concede a bênção solene.
Homilia episcopal
Você pode conferir o texto e o vídeo da homilia de dom Pedro. Também poderá acessar através do link https://www.youtube.com/watch?v=Nqhd-ARtwTw
“A liturgia da Santa Páscoa nos conduz à centralidade da Fé cristã. Toda a história da salvação, como sabemos, converge para este clímax. Ao alvorecer do dia depois do sábado, as mulheres foram ao sepulcro e ouviram do anjo: ‘Não tenhais medo!’ Jesus foi encontrá-las e disse: ‘Alegrai-vos!’ O Ressuscitado acrescentou: ‘Não tenhais medo. Ide dizer aos meus irmãos que se dirijam para a Galileia. E a notícia espalhou-se: Jesus ressuscitou, como havia predito! Na Galileia eles haverão de ver o ressuscitado.
Na Galileia foi onde tudo havia começado. Voltar significa reler tudo à luz da Cruz e da Vitória, sem medo. Nós também devemos olhar nossa vida a partir do começo, do nosso primeiro amor, do nosso chamado à vida e à fé cristã, que celebramos no batismo, recordado nesta festa em que nascemos para uma nova vida, pois nele está a raiz da fé.
Cristo não está aqui. Ressuscitou. Cristo não pode viver só na nossa memória. Ele vive para sempre. Por isso é que a celebração pascal não é comemoração; mas é “memorial”, isto é, um evento que renasce no hoje, diante dos nossos olhos. Ele ressuscitou e estará sempre conosco. Esta é a razão pela qual a assembleia litúrgica canta hoje: ‘este é o dia que o Senhor fez para nós!’ (Sl117). A Páscoa é, portanto, a alegria e a esperança de todos nós que somos chamados a ressuscitar com Cristo e recordar o nosso batismo. Eis a maior prova do amor de Deus por nós.
Como portadores do Kerigma, somos convidados a nos unir a Pedro e às mulheres da Bíblia, e anunciar ao mundo que Cristo ressuscitou. A ressurreição de Cristo constitui o centro de nossa fé. A Igreja se alimenta deste mistério. Nossa vida renasceu para ser vivida em Jesus Cristo, com e por Ele. Somente nesta volta às fontes poderemos fazer a feliz experiência de uma vida nova em Cristo Jesus, para d’Ele nos tornarmos discípulos e missionários, correndo como as mulheres para anunciar uma verdade que vem de Deus (ressuscitou!).
A fé na ressurreição imprime um novo dinamismo em nossa caminhada terrena. Experimentamos que Jesus está vivo. A celebração da páscoa do Senhor Jesus é a oportunidade de nos deixarmos invadir pelo amor misericordioso de Deus e seguir a Jesus com entusiasmo. Coloquemo-nos felizes a caminho, pois é a Páscoa do Senhor. Celebremos a festa com o pão sem fermento, o pão da retidão e da verdade. Feliz e santa Páscoa a todos”.
O parágrafo de abertura desta matéria foi extraído de um texto de autoria desconhecida. Dom Pedro já o utilizou como inspiração de outras pregações. Você pode ler a íntegra do texto acessando o link: https://pt.aleteia.org/2017/04/14/sabado-santo-um-grande-silencio-reina-sobre-a-terra/
Texto: Flávio Maia
Fotos: Bruno Henrique