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Santidade e Eternidade – o Chamado Universal

Santidade e Eternidade – o Chamado Universal

O mês de novembro se inicia com duas datas de especial valor: 1) o Dia de todos os santos, a 1º/11, e; 2) o Dia de finados, feriado nacional, a 2/11. De uma só vez, santidade e eternidade são colocadas diante de nossos olhos como realidades pensáveis e, mais do que isso, são apresentadas aos nossos corações como realidades alcançáveis, às quais somos chamados(as), que podemos e devemos acolher se queremos uma vida plena de sentido. Sim, cada uma e cada um de nós somos chamados à santidade! No Coração de Deus não existe privilegiados aristocratas. Nele, temos uma morada digna, não falta lugar para ninguém. Jesus revelou-nos que a vocação à comunhão plena com o Senhor Uno e Trino é para cada ser humano (cf. DV 2). Por isso, diante do Seu Coração, os nossos próprios corações podem exclamar: “Eu confio em Vós”, e “não são necessárias mais palavras” (DN 90).

Mas a santidade não é algo para ser vivido somente lá no céu. A santidade e a eternidade começam agora. Uma atrai a outra para dentro do tempo presente, impregnando-o de graça. A vida eterna não é uma segunda vida, mas a continuidade em plenitude da única vida que o Senhor nos concedeu e que já estamos vivendo. Desejemos aquilo que o Criador, por primeiro, já desejou para nós! Chamado e graça se complementam: o que Ele nos chama, Ele também nos agracia para conseguirmos. Nesse sentido, a santidade já é a graça das graças. Sem ela, não veremos a Deus (Hb 12, 14). Então, sem ela, não haverá eternidade feliz para nós. A santidade já é a graça. Por ela, a eternidade feliz, que é ver a Deus, é plenamente possível e já começou. E, pela possibilidade que temos de acessar a bem-aventurada eternidade, a santidade se torna uma graça ainda mais desejada, que nos envolve com a sua força para a busca constante de uma vida feliz, desde já, o quanto antes, sem demora. A bem-aventurada eternidade e a santidade se interpenetram e, como graça, nos animam e fecundam. Acolhamos essa graça que já atua em nós, não nos excluamos dela (cf. Hb 12, 15). Digamos: “Eu confio em Vós”.

Por consequência, tomemos cuidado para não colocarmos a santidade e a eternidade em lugares muito difíceis de alcançar. O Deus cristão é sempre próximo, é o Deus do encontro, Ele está no meio de nós! Por isso, o Papa Francisco tem uma orientação muito importante para nós: “Não pensemos apenas em quantos já estão beatificados ou canonizados” (GE 6), mas ampliemos os horizontes. E continua:

“Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Nesta constância de continuar a caminhar dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante. Esta é muitas vezes a santidade ‘ao pé da porta’, daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus […] Deixemo-nos estimular pelos sinais de santidade que o Senhor nos apresenta através dos membros mais humildes deste povo” (GE 7-8).

Não nos esqueçamos: todo ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1, 26-27), de Deus que é “Santo, Santo, Santo” (Ap 4, 8). O chamado é claro: “Sejam santos, porque Eu sou santo” (Lv 11, 45; cf. 1Pd 1, 16). Essa dignidade de sermos à imagem de Deus é infinita, jamais a perdemos (cf. CIgC 2267; DI 6-7). Não desista da santidade! Não desista da eternidade feliz! A santidade é possível! A santidade deve ser uma marca de nossa vida em todas as circunstâncias, em cada gesto e decisão, como algo inerente a nós, e não como um ato heroico ou milagroso que eu faço de vez em quando. A santificação se dá no cotidiano, na simplicidade da vida, através de uma busca constante por ser coerente com aquilo que cremos, sem separar, em momento algum, a fé que professamos e a vida que levamos. A santidade é, assim, o esforço constante por sermos e agirmos conforme à imagem e semelhança de Deus em nossa comunidade e na sociedade como um todo.

Por isso, é bom cada pessoa se perguntar:

  • Em tudo que eu faço eu sou coerente com a imagem de Deus que eu sou?
  • Eu amo como um ser à imagem de Deus?
  • Eu trabalho como um ser à imagem de Deus?
  • Eu sou justo(a) como um ser à imagem de Deus?
  • Eu cuido da natureza como um ser à imagem de Deus?
  • Eu amparo minha família, meu cônjuge e meus amigos e amigas como um ser à imagem de Deus?
  • Eu cumpro minha missão como um ser à imagem de Deus?
  • Eu lido com quem não gosta de mim e também com quem eu não gosto muito como um ser à imagem de Deus? Sei me irritar sem deixar apagar a minha dignidade de ser à imagem de Deus?
  • Eu sou uma cidadã ou um cidadão segundo à imagem e semelhança de Deus?

A pessoa santa, então, é uma pessoa bem-aventurada. Esses termos se tornam sinônimos na visão cristã (cf. GE 64). E Jesus é quem nos apresenta a força da santidade (ou da bem-aventurança) através de exemplos de “contracorrente ao que é habitual” (GE 65). Ou seja, nós nos santificamos na simplicidade do dia a dia, mas isso não significa que nos santificamos vivendo ou fazendo as coisas de qualquer jeito, especialmente porque “na realidade o mundo conduz-nos para outro estilo de vida” (GE 65).

A pessoa santa vive o que qualquer pessoa vive nas lutas do dia a dia, mas não pode admitir viver tais lutas como uma pessoa qualquer, porque tem sempre diante de seu coração a verdade irrevogável segundo a qual toda pessoa é infinitamente digna, pois não é algo, mas alguém, à imagem de Deus (CIgC 357). Desse modo, “as bem-aventuranças não são, absolutamente, um compromisso leve ou superficial; pelo contrário, só as podemos viver se o Espírito Santo nos permear com toda a sua força e nos libertar da fraqueza do egoísmo, da preguiça, do orgulho” (GE 65).

Pobres em espírito; aflitos; mansos; quem se compromete pela justiça; misericordiosos; puros de coração; quem promove a paz; quem é perseguido por causa da justiça e é injuriado e perseguido por causa de Jesus: eis as pessoas santas, as pessoas bem-aventuradas (cf. Mt 5, 1-12). Na prática:

  • “Ser pobre no coração: isto é santidade” (GE 70).
  • “Saber chorar com os outros: isto é santidade” (GE 76).
  •  “Reagir com humilde mansidão: isto é santidade (GE 74).
  • “Buscar a justiça com fome e sede: isto é santidade” (GE 79).
  • “Olhar e agir com misericórdia: isto é santidade” (GE 82).
  • “Manter o coração limpo de tudo o que mancha o amor: isto é santidade” (GE 86).
  • “Semear a paz ao nosso redor: isto é santidade” (GE 89).
  • “Abraçar diariamente o caminho do Evangelho mesmo que nos acarrete problemas: isto é santidade” (GE 94).

Das pessoas bem-aventuradas é a eternidade, o Reino dos Céus: santidade e eternidade. Você se identifica com elas? Sejamos essas pessoas.

 

 

SIGLAS UTILIZADAS

CIgC – Catecismo da Igreja Católica.

DI – Dignitas infinita. Declaração do Dicastério para a Doutrina da Fé sobre adignidade humana.

DN – Dilexit nos. Carta encíclica do Papa Francisco sobre o Amor Humano e Divino de Jesus.

DV – Dei Verbum. Constituição dogmática do Concílio Vaticano II sobre a Revelação Divina.

GE – Gaudete et exsultate. Exortação apostólica do Papa Francisco sobre a Santidade no mundo atual.

Gn – Livro do Gênesis.

Hb – Carta aos Hebreus.

Lv – Livro do Levítico.

1Pd – Primeira Carta de São Pedro.

 

Texto: Dr. Elvis Rezende Messias

Cristão leigo da Diocese da Campanha/MG, assessor diocesano do Movimento Fé e Política, membro da Paróquia Santo Antônio, Campanha, onde atua na Música Litúrgica. É casado, trabalha como professor-pesquisador e é autor do livro O evangelho social: manual básico de doutrina social da Igreja (Paulus, 2020), escrito com D. Pedro Cruz, bispo da Campanha.

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