No último dia vinte e oito, a Igreja do Brasil celebrou a Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo. Os dois apóstolos personificam a identidade da Igreja. Por caminhos diferentes, os dois deram o mesmo testemunho. No Evangelho de Mateus, lido no Ano litúrgico A, Jesus pergunta aos discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” (Mt 16,13). A resposta será dada por Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16). Tal resposta, vinda do Pai, já contém a semente da futura confissão de fé da Igreja, da qual Pedro é o fundamento e o chefe. Portanto, na definição da identidade de Jesus já desponta o papel eclesial de Pedro, onde a Igreja é convocada a professar a sua fé em comunhão com ele. Pedro aprende o significado real de seguir Jesus, e nos deixa esta lição. “Ubi Petrus, ibi Ecclesia”, ou seja, onde está Pedro, aí está a Igreja (Santo Ambrósio, Expositio in Ps., XL, §30).
Não são poucos os sinais na vida do apóstolo Pedro que indicam o desejo de Cristo em dar ao mesmo um destaque no Colégio Apostólico; o que se confirma na resposta de Pedro sobre a identidade de Jesus e em outras passagens em que ele fala em nome dos demais apóstolos. “Dentre estes, somente Pedro mereceu representar em toda parte a personalidade da Igreja inteira. Porque sozinho representava a Igreja inteira, mereceu ouvir estas palavras: ‘Eu te darei as chaves do Reino dos Céus’ (Mt 16,19). Assim manifesta-se a superioridade de Pedro, que representa a universalidade e a unidade da Igreja. A ele era atribuído pessoalmente o que a todos foi dado” (Santo Agostinho, Sermo 295, PL 38, 1348-1352). Deste modo, podemos afirmar que, desde os primórdios, a Igreja reconhece o primado de Pedro e de seus sucessores.
Na última Ceia Cristo confere a Pedro o ministério de confirmar os irmãos, mostrando que o ministério a ele confiado é um dos elementos constitutivos da Igreja, a qual nasce da comunhão da Páscoa celebrada na Eucaristia. Pedro deve ser o guardião da comunhão com Cristo por todos os tempos, ou seja, ele deve guiar o povo à comunhão com Cristo (cf. Bento XVI, Os Apóstolos. Uma introdução às origens da fé cristã. Ed. Pensamento. São Paulo, p. 68). O Concílio Vaticano II sublinhou com sabedoria esta comunhão ao dizer: “Jesus Cristo, Bom Pastor, prepôs aos demais apóstolos o Bem-aventurado Pedro e nele instituiu o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade de fé e comunhão” (LG, 18).
Neste sentido, torna-se muito oportuno e atual o que vem dito no Catecismo da Igreja Católica: “O papa, bispo de Roma e sucessor de São Pedro, é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade da Igreja. É o vigário de Cristo, chefe do Colégio dos bispos e Pastor de toda a Igreja, sobre a qual tem, por divina instituição, poder pleno, supremo, imediato e universal” (CIC, 881-882).
Diante de um quadro complexo de proliferações de “magistérios paralelos” em diversos setores de nossa realidade eclesial, gerando confusão e divisão, os bispos, como mestres na fé, e em comunhão com a cabeça do Colégio, devem construir e garantir a unidade da Igreja, pois a cultura do ‘mundanismo’, subjetivismo e relativismo, fere esta mesma unidade querida pelo próprio Cristo (ut omnes unum sint). Não podemos nos sentir Igreja fora da comunhão com o Papa. Somente juntos podemos estar com e em Cristo. Precisamos aprender a caminhar juntos, superando inúteis polarizações.
Por fim, para bem frisar o sentido teológico e litúrgico desta solenidade, vale a pena reler e refletir as preciosas e desafiadoras palavras do Papa Francisco: “Como o Senhor transformou Simão em Pedro, assim chama a cada um para fazer de nós pedras vivas, com as quais construir uma Igreja e uma humanidade renovadas. Há sempre quem destrua a unidade e quem apague a profecia, mas o Senhor acredita em nós e pede-te: queres ser construtor de unidade? Queres ser profeta do meu céu na terra? Deixemo-nos provocar por Jesus e ganhemos a coragem de lhe dizer: Sim quero! “ (Homilia na Solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo. Basílica de São Pedro, 29 de junho de 2020).