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ENCONTRO ANUAL DAS CASAS DE FORMAÇÃO DE NOSSA DIOCESE

ENCONTRO ANUAL DAS CASAS DE FORMAÇÃO DE NOSSA DIOCESE

“Tornar-se alimento: a sabedoria teogastronômica
a serviço de uma vida eucarística”

Entre os dias 05 e 07 de setembro, realizou-se, na Comunidade Filosófica São José, em Campanha- MG, o Encontro Anual das Casas de Formação. Reunidos com seus reitores, nós, Seminaristas, vivenciamos uma experiência sapiencial alimentada pela espiritualidade, gastronomia, literatura e teologia – uma autêntica teofania gastronômica, na qual o conhecimento de si, a abertura ao outro e o reencontro com Deus foram entrelaçados como ingredientes de uma mesma receita de vida. Nesse encontro, contamos com a assessoria do jesuíta Padre Francys Silvestrini Adão, que, com maestria, sensibilidade espiritual e inspirado pelo Cardeal José Tolentino Mendonça, conduziu nossas reflexões a partir do tema “Tornar-se alimento: a sabedoria teogastronômica a serviço de uma vida eucarística”.

Logo no início, para abrir o nosso apetite, fomos convidados a reconhecer que a comida é lugar de Revelação e que Deus, diariamente, nos serve um grande banquete. Mas, para saboreá-lo, não podemos estar fartos, saciados, pois, se estamos cheios, não há espaço para o novo. Por isso, a nossa vivência existencial e espiritual exige de nós a disposição dos “partos” que enfrentamos ao longo da travessia da vida. Em outras palavras, é necessário compreender que viver é um mistério, por isso, devemos estar constantemente abertos, a luz da fé, a um novo olhar, a um novo presente, a um novo encontro. Ora, o mistério da vida – como a Eucaristia – é sempre fecundo, jamais se esgota. As fragmentações da vida, tantas vezes dolorosas, podem se tornar caminho de comunhão, lugar de descobertas e revelações cotidianas. Há sempre algo novo a aprender sobre Deus.

A degustação espiritual continuou com reminiscências afetivas, nas quais fomos convidados a desbravar os mistérios guardados em nossas “entranhas”, isto é, fomos convidados a “reaprender a olhar para nós mesmos como profecia do amor incondicional descrito nos Evangelhos”. Foi um mergulho em nossa interioridade, com o objetivo de resgatar experiências cotidianas que são carregadas de sentido. Essa descoberta foi alimentada por uma autobiografia gastronômica, que fez com diversos sabores fossem relembrados, sabores que nos lembram que a cada refeição carrega consigo muito mais do que nutrientes: ela traz presença, cheiro de infância, sinal de amizade, afetos, cuidado materno, saudade… tem gosto de domingo. Essa experiência nos fez refletir que a Boa Notícia – o Evangelho – sempre toca os nossos afetos, por isso, não podemos nos esquecer do sabor que tem a comida de domingo, dia do banquete divino, da Eucaristia celebrada e da vida partilhada em nossa comunidade e em nossos lares. Nessa aura teogastronômica, fomos interpelados a refletir: Quantas vezes participamos da Eucaristia sem estarmos realmente presentes? Ora, por vezes, na Celebração Eucarística, o Senhor está presente, mas nós não estamos. E, sem presença, não vivemos a mística do encontro. Frequentemente, o que nos impede de estar verdadeiramente ali é o medo da cruz, o temor do sofrimento. No entanto, o encontro com o Crucificado é um convite ao ardor interior, a deixar que o coração se inflame com a Palavra. Descobrimos, assim, que cada Eucaristia é ocasião de novo nascimento, de renovação da vocação, de gratidão que transforma.

Esse encontro teogastronômico foi uma oportunidade para redescobrirmos a comensalidade, isto é, tornar-nos próximos, sentar-se à mesa, abrir-se ao outro, acolher e ser acolhido. Foi uma ocasião para desvendar nossa própria cozinha, metáfora da nossa própria existência, onde encontramos diversas misturas tais como nossa fragilidade, a necessidade de desapego, a consciência de que não somos o prato principal na vida dos outros, mas podemos ser temperos; compreendemos que todos podem ensinar e todos podem aprender. Ora, a cozinha também nos faz recordar que entrar na experiência do outro dói, e isso nos ajuda a entender que a salvação vem de fora; e, ainda, aprendemos que jejuamos não apenas por sacrifício, mas para reacender em nós o desejo de nos alimentar com mais intensidade, de buscar o alimento que nos concede vida nova. Como nos recorda Santo Inácio de Loyola, “não é o muito saber que sacia e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear intensamente as coisas”. Ora, nessa vivencia teogastronômica, fomos introduzidos à mística dos verbos eucarísticos: tomou o pão, deu graças, partiu e deu a seus discípulos.

Esses verbos exalam o cheiro da culinária de Cristo. Por meio deles, somos transformados pelo Mistério Pascal, que renova nossa vocação e nos convida a redescobrir a alegria de sentar-se à mesa com Jesus, saboreando a Eucaristia como alimento que conduz à vida. Jesus frequenta muitas mesas e bate à nossa porta para fazer conosco uma refeição. Ele deseja estar não apenas nas salas bem arrumadas de nossa vida (nossos discursos, nossas aparências), mas na cozinha: onde há movimento, louça para lavar, pratos para preparar, lugar do encontro e desencontros, da intimidade, do cotidiano. É na cozinha do coração, que o Senhor deseja entrar, um lugar que revela a saborosa travessia da fé, onde vivemos inquietos, mas sempre em busca de saciar-nos do alimento sagrado que nos leva a descobrir e sair de nós mesmos, a ir ao encontro dos outros e, principalmente, a deixar que arda o coração com a presença de Deus. Um Deus que mata a fome e devolve a fome, que nos dá a vida e nos dá condições para continuá-la. Parafraseando num sabor vocacional: o Deus que chama também sustenta o caminho daqueles que respondem ao seu chamado.

Sejamos, pois, alimento uns para os outros! Sejamos mistério partilhado! Sejamos mesa posta. Afinal, nossa vida é como um pão a ser partilhado, se o pão vai virar Eucaristia, essa escolha é nossa.

 

Texto escrito por: Seminarista Jefferson Moreira 1° ano da Etapa Configurativa

Fotos: Seminário diocesano 

Foto de Diocese da Campanha

Diocese da Campanha

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