/
/
/
Carta Pastoral sobre o Sacramento da Penitência

Carta Pastoral sobre o Sacramento da Penitência

Amados irmãos e irmãs em Cristo Jesus, Chama Viva de nossa Esperança, saudação de Paz e Bênção!

No início deste tempo santo da Quaresma, imersos na graça do Ano Jubilar de 2025, somos chamados a aprofundar nossa vida de fé, buscando intensamente a conversão do coração. A Igreja nos oferece um meio especial para esta mudança de vida, que cura em nós as feridas causadas pelo pecado e nos favorece a reconciliação com Deus e com os irmãos: o Sacramento da Penitência, dom precioso de Deus para restaurar nossa amizade consigo.

Neste tempo de graça, exorto todos os fiéis a uma vivência profunda da Confissão, buscando compreender a sua riqueza e importância na caminhada cristã.

Convido-os a aprofundarmos sobre alguns pontos que iluminam a reflexão acerca deste Sacramento:

1.     Trata-se de um encontro com a Misericórdia Divina.

O Sacramento da Penitência, também chamado de Confissão ou Reconciliação, é o caminho estabelecido por Cristo para que os pecadores possam retornar à comunhão com o Pai. Nele, encontramos e experimentamos a misericórdia infinita de Deus, que nos acolhe com amor e nos purifica de nossos pecados. Jesus instituiu este Sacramento ao confiar aos apóstolos o poder de perdoar os pecados (cf. Jo 20,23). É, portanto, um encontro pessoal com o Senhor, no qual, arrependidos, recebemos a graça restauradora que nos fortalece para seguir em busca da santidade.

Cada vez que nos aproximamos do confessionário, somos convidados a reconhecer nossa fragilidade, arrependendo-nos sinceramente e permitindo que a graça de Deus transforme nosso coração. A Confissão não é uma expressão de culpa, mas um passo decisivo rumo à santidade, pois, ao recebermos a absolvição de nossos pecados, somos fortalecidos para continuar nossa caminhada cristã.

Neste Sacramento, encontramos a paz que o mundo não pode dar, uma paz que nasce do encontro e reencontro com Deus e com nossa própria consciência purificada. A Confissão é um convite à humildade, à conversão e à esperança, pois nela somos renovados e impulsionados a viver a plenitude do Evangelho.

2.     É um sinal da Misericórdia de Deus.

A Igreja nos oferece, como sinal da infinita misericórdia de Deus, o Sacramento da Penitência. A Sagrada Escritura nos ensina que todos somos pecadores. Como afirma São João: “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos” (1Jo 1,8). O próprio Jesus nos ensinou a pedir: “Perdoa-nos os nossos pecados” (Lc 11,4). Assim, a reconciliação com Deus é essencial para nossa caminhada de fé. A exemplo do Filho Pródigo somos esperados, acolhidos, amados e perdoados por Deus (Lc 15,11-32)

Embora o Batismo tenha apagado nosso pecado e suas penas, ele não eliminou a inclinação ao pecado, conhecida como “concupiscência”. Por isso, a Igreja concede constantemente a graça do perdão por meio da Confissão, um meio eficaz para nos reaproximarmos de Deus e da comunidade eclesial.

3.     Fundamentação e Instituição do Sacramento.

A palavra “Penitência” acena para o arrependimento e dor pelo pecado cometido. Este Sacramento foi instituído pelo próprio Cristo ao conceder aos Apóstolos o poder de perdoar os pecados: “Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados” (Jo 20,23). Assim, Cristo oferece ao homem a possibilidade de se reconciliar com Deus e com a Igreja, restaurando sua dignidade de filho de Deus, fragmentada pelo pecado.

4.     Matéria e Forma do Sacramento.

Diferentemente de outros Sacramentos, nos quais a matéria é claramente visível, como a água no Batismo ou o pão e o vinho na Eucaristia, na Penitência a matéria consiste nos atos do penitente verbalizados diante do sacerdote. O arrependimento e a confissão são essenciais para a validade do Sacramento, enquanto a penitência é necessária para sua plena eficácia.

A forma do sacramento está presente no gesto do sacerdote de estender a mão sobre a cabeça do fiel e pronunciar as palavras: “Deus Pai de misericórdia que pela morte e ressurreição de seu Filho reconciliou consigo o mundo e enviou o Espírito Santo para a remissão dos pecados te conceda, pelo ministério da Igreja, o Perdão e a Paz. E eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Essas palavras, ditas com a autoridade de Cristo, conferem ao penitente o perdão e a paz.

5.     O Pecado e sua Dimensão Social.

O pecado não afeta apenas o indivíduo, mas também toda a Igreja. São João Paulo II, na Exortação Apostólica Reconciliação e Penitência, fala do “pecado social”: “Todo o pecado se repercute, com maior ou menor veemência, com maior ou menor dano, em toda a estrutura eclesial e em toda a família humana”. Por isso, a confissão também fortalece a comunidade cristã, restaurando a unidade ferida pelo pecado.

6.     A Celebração Individual do Sacramento da Penitência.

Para que a celebração do Sacramento da Penitência seja bem vivida, é imprescindível que se distinga Confissão de aconselhamento ou direção espiritual. O momento da confissão é exclusivo para isto: verbalizar os pecados cometidos e receber a absolvição e a penitência. Aconselhamento ou direção espiritual podem ser organizados para outros momentos na dinâmica do atendimento pastoral.

O fiel que vai se confessar deve se preparar recorrendo ao Espírito Santo em um momento de oração e interiorização, examinando a sua consciência, à luz da graça de Deus, para detectar em que momentos se desviou ou descuidou daquilo que faz parte do estilo de vida cristã proposto por Jesus, tendo como elementos iluminadores o Evangelho, os 10 Mandamentos da Lei de Deus, os Mandamentos da Igreja.

Uma vez identificados os pecados, aconselha-se que seja feita uma lista por escrito, para não ocorrer de se esquecer na hora do Sacramento, pois são perdoados os pecados apresentados como matéria necessária na confissão dos pecados cometidos.

Aproximando-se do sacerdote, o penitente dirá: “Padre, dai-me a vossa Bênção pois pequei!” O padre perguntará quanto tempo faz que a pessoa não se confessa e depois da resposta, desejando que possa fazer uma boa Confissão com a ajuda de Deus, pedirá que diga os seus pecados, podendo fazer uso da sua anotação, fruto do exame de consciência. É importante que o confessor tenha a certeza de que a pessoa está arrependida verdadeiramente, podendo até lhe fazer esta pergunta: “Você está arrependido?” Já que sem o verdadeiro arrependimento e sincero desejo de corrigir a vida, não é possível dar a absolvição.

Posteriormente o confessor deve pedir que o fiel reze o Ato de Contrição, que pode ser espontâneo ou uma das belíssimas fórmulas que compõem o patrimônio da piedade da Igreja. Algum sacerdote poderá dizer: “Mas o simples fato de a pessoa procurar a confissão já é um ato de contrição!” e pense em dispensar a recitação do mesmo. Entretanto ele faz parte do rito sacramental e não pode ser dispensado. Oportunamente, nos lugares de atendimentos haja por escrito o Ato de Contrição para facilitar a recitação por parte dos penitentes, ou os confessores os ajudem a rezar caso não consigam sozinhos.

Estendendo a mão sobre a cabeça do penitente o confessor dirá a fórmula de absolvição tal qual se lê no número 4 (retirado do Ritual da Penitência), evitando criatividades ou acréscimos. A seguir, proporá a penitência, sem a qual um fiel nunca pode sair de uma Confissão, pois é um gesto concreto que lhe permite reparar os danos causados pelos pecados cometidos, que se deve buscar realizar tão logo termine a Confissão.

7.     A Necessidade da Confissão Regular.

Em um mundo marcado pela indiferença e pela relativização do pecado, é fundamental resgatar a prática da Confissão. Muitos fiéis, infelizmente, se afastaram deste sacramento, privando-se da graça que ele proporciona. O Sacramento da Penitência é um presente inestimável da Misericórdia Divina.

A Igreja, como Mãe amorosa, exorta seus filhos a buscarem este Sacramento, recomendando que cada católico se confesse ao menos uma vez por ano. Mais do que uma obrigação, trata-se de uma graça que nos restaura, nos fortalece e nos conduz à vida nova.

Convido cada um a fazer um exame de consciência sincero, reconhecendo a necessidade de buscar o perdão de Deus. A Confissão não deve ser vista apenas como um dever, mas como um presente divino, uma oportunidade de renovar-se e recomeçar.

Entretanto, evite-se que a Confissão tenha uma frequência escrupulosa, em que o penitente nunca se sinta agraciado pelo perdão de Deus, seja diante dos pecados presentes ou dos pecados já confessados em confissões anteriores.

8.     O Papel dos Sacerdotes, a Disponibilidade do Sacramento e os Mutirões de Confissões em vista da Páscoa.

Neste Ano Santo, mais do que em outras épocas, os sacerdotes são chamados a um empenho ainda maior no atendimento das confissões. É missão do sacerdote ser ministro da misericórdia, oferecendo-se generosamente ao serviço do perdão.

Durante este tempo quaresmal, de especial graça, como costume em nossa Diocese da Campanha, em todas as paróquias haverá um mutirão de confissões, no qual todos os sacerdotes da forania estarão disponíveis para acolher os penitentes. É aconselhável que não haja mutirões na segunda-feira, mas se for uma necessidade da forania, em vista da organização, os padres, em espírito abnegado, abram mão de suas folgas, pois a reconciliação dos fiéis deve ser prioridade neste tempo.

Preparando cada mutirão, propõe-se que haja uma Celebração Penitencial, com exame de consciência, na igreja onde for ocorrer o mutirão, às 18:30, com a presença de todos os sacerdotes da forania, como um momento especial de interiorização. Ao final desta celebração, os confessores se dirijam aos lugares determinados para o atendimento individual de cada penitente.

Vale lembrar que o encontro e a convivência entre os sacerdotes neste tempo de mutirões enriquece a fraternidade presbiteral, sendo de grande valia que não se atrasem, nem se ausentem em nenhum dia e após o atendimento possam partilhar uma refeição.

9.     O Sigilo Sacramental e a Confiança no Perdão de Deus.

É importante recordar que o Sacramento da Penitência é revestido de absoluto sigilo. Nenhum sacerdote pode, em hipótese alguma, revelar o que escutou em confissão. Essa garantia deve dar aos fiéis total confiança para se aproximarem do confessionário sem medo ou hesitação. O que ali é confessado permanece protegido em um sacrário inviolável.

O sacerdote deve evitar usar em suas homilias e sermões matéria ouvida na Confissão, o que causaria desconforto ou desconfiança por parte dos fiéis.

10.  Um Chamado à Conversão e à Vida Nova.

A Confissão nos impulsiona à verdadeira conversão. Não basta apenas confessar os pecados, é preciso assumir o compromisso de uma vida nova. O perdão de Deus nos impulsiona a uma mudança concreta de atitudes, abandonando o pecado e vivendo segundo os ensinamentos de Cristo.

Neste Ano Santo de 2025 em que a Igreja nos convida a fortalecer nossa amizade com Deus e a buscar a Indulgência Plenária por meio da visita às igrejas indulgenciárias, abramos nosso coração à Misericórdia Divina. Aproximemo-nos com confiança do Sacramento da Penitência, com o coração contrito e aberto à transformação que Deus quer operar em nossas vidas e incentivemos outros a fazer o mesmo, marcando este tempo pelo retorno sincero ao amor do Pai, que sempre nos espera de braços abertos.

A todos desejo frutuoso tempo quaresmal e experiência abundante da graça de Deus, como torrente inesgotável derramada sobre nós, nesta preparação para a Páscoa do Senhor, que morreu e ressuscitou para a nossa salvação!

DADA e PASSADA na Sé Episcopal da Campanha, aos 05 de março do Ano da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2025, Sob Nosso Sinal e Selo de Nossa Chancelaria.

 

† Dom Pedro Cunha Cruz

Bispo Diocesano

 

Cônego Bruno Cesar Dias Graciano

Chanceler do Bispado

 

Diocese da Campanha

Diocese da Campanha

Compartilhar:

Categorias:

Diocese

Formações

Leia Também