No coração da Diocese da Campanha, entre as montanhas e vales que moldam o Sul de Minas Gerais, destaca-se uma figura cuja obra transcende o tempo, deixando marcas indeléveis na história e na fé de toda uma região. Comendador da Santa Sé, membro da Ordem Equestre de São Silvestre, Prefeito de Itanhandu por dois mandatos, Benedito Lázaro Ribeiro, um projetista renomado, é a personificação da dedicação e do talento aplicados ao serviço da Igreja e da comunidade. Sua trajetória é marcada pela construção e renovação de templos que são testemunhos vivos de sua genialidade e de sua profunda devoção.
Nascido aos 03 de maio de 1907, em Santana do Capivari, no município de Pouso Alto/MG, em uma época em que a arquitetura e a construção demandavam mais do que simples técnicas, mas também um compromisso espiritual e cultural, o chamado “Bibi”, desenvolveu um estilo que unia o sagrado e o belo, criando espaços que elevam a alma e encantam os olhos. Filho de José Joaquim Ribeiro e Cândida da Cunha Ribeiro, casou-se com a senhora Josefina Perrone Ribeiro, com quem teve cinco filhos: Luis Cândido Ribeiro, Marise Ribeiro, José Cândido Ribeiro, Márcia Perrone Ribeiro e Luiz Celso Ribeiro.
Sua habilidade em transformar pedra e argamassa em lugares de oração e comunhão é reconhecida em várias cidades da região, onde suas obras se destacam não apenas pela grandiosidade, mas pela harmonia e pela reverência que inspiram, principalmente por se tratar de dom divino, já que não frequentou escola de arquitetura ou engenharia, dando linhas ao estilo romano, de nobreza elevadíssima.
Entre suas criações, a Igreja de sua cidade, a Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Itanhandu é um exemplo de sua maestria. Localizada em um cenário pitoresco, a igreja é um marco não só da fé local, mas também da capacidade de Benedito em integrar a arquitetura ao entorno natural, criando uma sinergia perfeita entre o terreno montanhoso e o edifício sagrado.
O mesmo se diga com relação à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Pouso Alto, ao Santuário de Nossa Senhora d’Ajuda, em Três Pontas, à Igreja Matriz de São Gonçalo de Amarante, em São Gonçalo do Sapucaí, à Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em São Lourenço, em que se verificam um outro aspecto de seu talento: a capacidade de combinar tradição e inovação, respeitando as formas e símbolos clássicos da arquitetura e da liturgia, ao mesmo tempo em que introduz elementos que tornam cada templo único. Sem esquecer de citar as igrejas matrizes de São Sebastião do Rio Verde e Virgínia, para as quais traçou linhas expressivas em vista da reforma e outras obras.
Soube deixar sua marca nestas igrejas que se tornaram o centro da vida religiosa de suas comunidades. Sua sensibilidade em captar as necessidades espirituais de cada local e traduzi-las em arquitetura é um dos aspectos que fazem de sua obra algo tão especial. Cada detalhe, cada traço, carrega a essência de um homem que entendia que construir uma igreja era mais do que erguer paredes… Mas criar um espaço onde o divino pudesse se manifestar.
A reforma da Catedral da Campanha foi um dos maiores desafios de sua carreira. A Catedral, símbolo máximo da Diocese, precisava de uma remodelada e adequação que respeitassem sua história, seu estilo rococó, mas que também a preparassem para o futuro, sob os burburinhos da reforma litúrgica que seria implementada a partir do Concílio Vaticano II. Ninguém ousava pensar que as imensas paredes em taipa poderiam ser rasgadas para a criação dos arcos que unem as naves da igreja, formando um corpo que, desde a década de 1940, tem sido o espaço para tantos fiéis se aglomerarem na Igreja Mãe.
O grande “Bibi”, com sua visão e experiência, conseguiu não apenas restaurar a majestade da antiga Sé Campanhense, mas também dar vida nova àquele templo que continua a inspirar gerações. O Palácio São José e a Casa Paroquial da Campanha, bem como a ampliação do Colégio Sion, outras de suas obras-primas, são testemunho de sua versatilidade e de sua capacidade de projetar não apenas espaços religiosos, mas também edificações de grande valor histórico e cultural.
Benedito Lázaro Ribeiro é, sem dúvida, uma figura que merece ser celebrada não apenas pela Diocese da Campanha, mas por todos aqueles que valorizam a arte, a fé e a história. Sua vida e obra são um exemplo de como a dedicação e o talento podem transformar uma região, enriquecendo-a espiritualmente e culturalmente. Ao olharmos para as igrejas e edifícios que ele projetou, somos convidados a refletir sobre a importância de preservarmos e valorizarmos o legado daqueles que, a seu exemplo, dedicaram suas vidas ao serviço de Deus e da Igreja. Faleceu a 18 de novembro de 1985 e foi sepultado sob orações e gratidão de muitos sacerdotes que honrosamente lhe fizeram homenagens.
Escrito por: Cônego Bruno César Dias Graciano – Cura da Catedral de Santo Antônio e Chanceler do Bispado