“Toda árvore boa produz bons frutos” há 60 anos as sementes de uma boa árvore foram lançadas à terra. A árvore cresceu e seus ramos se estenderam a toda a face da terra. E, embora existam aqueles que queiram arrancar seus galhos ou mesmo destruir a árvore arrancando-a pela raiz, esta árvore já começou a produzir seus frutos e tem crescido, noite e dia, suave e silenciosamente, fazendo-nos compreender a dinâmica terna do Reino de Deus. A árvore à qual nos referimos é o Concílio Vaticano II e um dos tantos bons frutos que esta árvore tem produzido poderia se traduzir na pessoa e na forma de pastorear com a qual nos conduziu, ao longo destes dez anos, nosso bispo, Dom Pedro Cunha Cruz. Contemplar ao longo destes dez anos a sua dinâmica de Pai e Pastor, nos faz compreender o papel da Igreja e no como colocar em prática, no mundo atual, as palavras do Evangelho.
Dom Pedro chegou em nossa Diocese em um tempo de mudança, onde se exigia uma especial atenção para os avanços necessários e queridos dentro da Igreja. E sua atuação na quarta Assembleia Diocesana, colocou mais uma vez nossa Diocese na vanguarda da evangelização ao assumir como uma das prioridades diocesana o diaconato permanente, sem esquecer a importância da formação dos leigos, se abrindo a uma Igreja toda ministerial, um processo que dinamiza nossas comunidades e busca conter o famigerado clericalismo, vilão de nossos tempos.
O mesmo carinho de pai e pastor se faz notar através do anúncio da palavra de Deus, seja por meio das homilias, sempre profundas reflexões, seja por meio de Cartas e Ofícios enviados a toda Diocese. Neste sentido, exercendo o ofício e ensinar, ensinou com mais profundidade a adentrarmos no evangelho de Cristo. Entre os principais deveres de um bispo, o mais eminente. Guardaremos conosco as palavras de Dom Pedro nos momentos importantes em que nos reunimos em Assembleia; sobretudo na missa da quinta-feira santa com uma palavra de amor e carinho para com os sacerdotes e em especial o sacerdócio. Um amor em palavras que se traduziu na prática: seja nos mais de quarenta padres ordenados para o serviço da Diocese ao longo destes dez anos, seja no carinho e na atenção em ouvir os padres mais experientes do nosso Clero Diocesano, ali se fazia resposta ao apelo de Cristo: “apascenta os meus cordeiros”.
Ainda em consonância com a proposta da Igreja em saída, fruto do ministério do Papa Francisco, percebemos o grande testemunho que recebemos de seu ministério quanto ao cuidado dos marginalizados: sobretudo pelos pobres e humildes, um bom exemplo está na acolhida das pessoas encarceradas; tanto no pedido feito aos sacerdotes por um olhar mais atento a estes especiais irmãos, quanto em seu próprio junto a eles, visitando e celebrando nos presídios. Com um olhar nas periferias constituiu paróquias e colocou sacerdotes mais próximos ao povo. Aberto ao diálogo contemporâneo, Dom Pedro fez da Doutrina Social da Igreja, também sua bandeira, seja trabalhando na instrução ou no dialogo com autoridades civis, encontro com os prefeitos ou levando para o ambiente laico os fundamentos e princípios cristãos.
No entanto, ao longo destes 10 anos, talvez o desafio maior tenha travado fora da Igreja, afinal os mais de dois anos de pandemia exigiu de nossos bispos serem muito mais que pastores. A decisão certa dos momentos em que fechar ou abrir as Igrejas, as novas mídias digitais que dominaram o espaço do presbitério fazendo de celulares e computadores ágoras contemporâneos; trouxe a palavra do Pastor para dentro do lar. Mas ao mesmo tempo revelou a massa de ovelhas desamparadas, cuja atenção se voltou para a promoção da vida. Neste tempo sofrido que vivemos, olhando para sua atuação, compreendemos que o episcopado não é uma honorificência, mas um serviço.
Um dos últimos esforços foi a conclusão do Diretório Litúrgico Sacramental. De certa forma, com as ações propostas pelo Diretório continuará ainda por um bom tempo conosco, Dom Pedro, em nossas celebrações, na instituição dos ministérios e na celebração dos sacramentos, pois com certeza em muito colaborou para a conclusão do texto.
É quase impossível resumirmos em poucas linhas as ações destes dez anos. O legado que nos deixa ainda estará na história de nossa Diocese; e como constatamos ultrapassará em muito nossas fronteiras. Mas o verdadeiro tesouro que nos deixa com certeza está guardado onde a traça não pode destruir, nem o ladrão pode roubar: em nossos corações. O Rio de Janeiro já nos presenteou antes com a santidade de Dom Othon Motta, agora nos presenteou com a seriedade, a sabedoria e a competência de Dom Pedro; por isto só temos a agradecer ao Senhor Deus por enviar-nos um pastor que foi capaz de unir a verdade e a caridade, a inteligência e o amor, a prudência unida à confiança. O amor de Cristo nos uniu num forte laço de amizade que será sempre cultivado em nossos corações. Portanto resta-nos dizermos: muito obrigado. Servo de Jesus, podemos dizer a seu respeito como o próprio São Paulo, o amor de Cristo é que o impulsiona. Acompanharemos sempre com carinho fraternal os caminhos pelos quais o Senhor haverá de o conduzir. Conte com nossas orações.
Côn. Marcos Antônio Menezes Thomaz
Pároco na Paróquia São Lourenço Mártir, São Lourenço