O Reino de Deus está próximo

Braso D. PedroEstamos nos aproximando do final do ano litúrgico e o foco das leituras neste período é o tema da vinda do Senhor no fim dos tempos. Esta é a razão de enfatizarmos o aspecto da vigilância de toda a Igreja para este momento definitivo do encontro com Cristo na sua glória, quando Ele nos conceder a participação no seu Reino.

O Novo Testamento tem como tema central o “Reino de Deus”. O tema da realeza messiânica, baseado nas promessas proféticas, serve para definir o papel de Jesus, figura central do Reino. Mas Jesus, por seu despojamento (kénosis) se desprende totalmente da dimensão política deste Reino. Ele não veio mais para ser um rei político como David.

Mas Jesus é Rei? Durante o ministério público de Jesus, ele não se prende às dimensões temporais ou humanas do Reino. Daí Ele não se opor à autoridade de Herodes e nem a do império romano (“dai a César, o que é de César”); exatamente porque a sua missão é de outra ordem. Cada vez que a multidão tenta fazer de Jesus um rei, ele foge (cf. Jo 6, 15), sobretudo após um milagre de grande repercussão, como a multiplicação dos pães (cf. Jo 6,15). Mas na entrada triunfante em Jerusalém, Ele se deixa aclamar como Rei de Israel (cf. Lc 19, 38; Jo 12, 13). Esta aclamação estará ligada à hora de sua Paixão. Jesus fala do seu Reino na hora em que sua paixão se aproxima (hora escatológica). Destarte, a realeza de Jesus diz respeito à sua qualidade de Messias e de Filho de Deus.

Os evangelistas mostram que sua paixão é a revelação paradoxal da realeza de Jesus. Quando interrogado por Pilatos se ele era o Rei dos judeus, Jesus não nega. Mas, ao mesmo tempo, afirma que o seu reino não é deste mundo (cf. Jo 18, 36). A realeza de Jesus segue uma lógica contrária a do mundo em que vivemos, pois sua glória se manifesta no drama da cruz. O paradoxo é confirmado pela inscrição da cruz que traz: “Jesus de Nazaré, rei dos judeus” (Jo 19, 19). A glória da realeza de Jesus se dará por sua ressurreição e por sua parusia no último dia. Só pode entender esta realeza de Jesus quem é capaz de ver estes fatos com os olhos da fé. A sua realeza resplandece no mistério da cruz.

Portanto, Jesus não rivaliza e não almeja nenhuma forma de poder dos reis terrestres. Como “esplendor da glória do Pai”, Jesus quer nos fazer participantes de seu Reino. Por isso, o objetivo fundamental de sua pregação está pautado no forte apelo: “o Reino de Deus está próximo” (Mt 3,1; 4,17). Em toda sua pregação, Jesus coloca em primeiro plano o Reino de Deus ou a Boa nova do Reino. Para participar deste Reino é preciso crer em Jesus. Só Jesus é capaz de nos fazer conhecer esta realidade do Reino. Não são os sábios e prepotentes deste mundo que nos farão conhecer a natureza deste Reino; esta é a razão pela qual Jesus o revela aos humildes e pequenos.

As parábolas de Jesus narradas nos Evangelhos expressam uma certa compreensão do seu Reino; mas a sua real e completa manifestação se dará na Ressurreição e no Pentecostes. O Reino de Deus já está entre nós, sobretudo quando a Palavra de Deus é acolhida pelos homens. Mesmo não sendo totalmente visível, o Reino se concretiza cada vez que acolhemos sua Palavra. Vale a pena deixar tudo pelo Reino (cf. Lc 18, 29).

Sabemos que a Igreja não é o Reino. Mas ela carrega e antecipa os sinais do Reino na vida e na história, mediando esta tensão entre o “já” iniciado e o “ainda não” consumado. A vivência sacramental, que nutre nossa fé, nos antecipa as realidades do Reino; mesmo que este se plenifique no fim dos tempos, quando todos nós, seus discípulos, seremos chamados a partilhar de sua glória. Quantos são felizes os que permanecem fiéis até o fim. O mais importante não é saber quando será este fim ou a plenitude deste Reino, mas estar preparado, vivendo e testemunhando o que Cristo ensinou.

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