Por uma Educação humanista, fraterna e inclusiva

Braso D. Pedro

A Campanha da Fraternidade deste ano com o tema: Fraternidade e Educação, e o lema: Fala com sabedoria, ensina com amor, visa mobilizar os cristãos e a sociedade brasileira a buscarem caminhos de solução aos desafios da Educação no Brasil, à luz do Evangelho. A realidade da Educação desperta nossa consciência para construirmos um mundo mais humano, fraterno e justo. Tal objetivo não será atingido sem a promoção do desenvolvimento humano integral. Este é o verdadeiro alicerce de todo programa educacional nos seus mais variados âmbitos e realidades culturais em nosso País continental.

Além de valorizar a ciência e o conhecimento, a Igreja sempre priorizou a pessoa como princípio da Educação; haja vista outras duas campanhas da fraternidade sobre a Educação, a saber: em 1982, Educação e Fraternidade, com o lema “A verdade vos libertará” e 1998, Fraternidade e Educação, com o lema “A serviço da vida e da esperança”. Portanto, ela nunca poderá se eximir do cuidado com a Educação como verdadeira prioridade nacional (cf. CNBB. Educação, Igreja e Sociedade. São Paulo: Paulinas, 1982, p. 65).

A Educação é tarefa que responsabiliza toda a Igreja e a Sociedade. Ela muda a pessoa e, a partir dela, o mundo. Neste sentido, as escolas e universidades católicas podem ser autênticos “pátios” educativos, onde favoreçam as pessoas a se tornarem mais humanas, isto é, a se realizarem mais plenamente. Os espaços educativos devem fomentar o autêntico desenvolvimento de todas as dimensões da pessoa humana. A pastoral da educação poderá exercer um papel muito importante na implementação destes objetivos; além de responder às principais demandas da Educação.

Apesar da educação pública ser de pouca qualidade, e o índice de analfabetismo ainda alarmante no cenário educacional brasileiro, sem falar da baixa remuneração dos educadores, a Educação sempre deve estar no centro das políticas públicas como projeto de Estado e não só de governo, pois ela envolve Igreja, governo, sociedade e família; tendo sempre a pessoa no centro de suas relações e prioridades. É preciso construir este caminho conjuntamente, com espírito de solidariedade, diálogo e fraternidade.

A Educação que queremos e precisamos é aquela que integra unidade e pluralidade, autoconhecimento e alteridade, respeito e cuidado. O modelo e a referência para nós será sempre Jesus Cristo, que educava as multidões de forma pedagógica, com escuta, sabedoria e misericórdia. “O modo de ensinar de Jesus transformou e ainda hoje pode transformar a vida de muitas pessoas” (Texto-Base, p. 61).

O Pacto Educativo Global proposto pelo Papa Francisco desde 2019, propõe uma revisão de nossos paradigmas pedagógicos e estruturas educacionais, onde o conceito de Educação ultrapassa os limites de uma concepção lucrativa, funcionalista e utilitarista da mesma. Isto não significa negar uma Educação profissionalizante e de qualidade, mas sobretudo dar uma atenção para a integralidade e a unidade da pessoa. O poder de transformação da Educação deve ser gerador de um novo humanismo, já que a ciência e o humanismo devem caminhar sempre unidos. “A Educação será ineficaz e seus esforços estéreis, se não se preocupar também por difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza” (Papa Francisco, Laudato Sì, n. 215).

Que a proposta da Campanha da Fraternidade possa nos motivar na promoção de um autêntico e corajoso diálogo sobre a realidade da Educação no Brasil, sobretudo a Educação comprometida com os mais vulneráveis e a serviço da vida humana. Somente assim conseguiremos vencer a discrepância entre o conhecimento e a vida, pois a Educação torna o homem cada vez mais humano, desde que inspirada na pessoa e no ensinamento de Jesus, que aproxima e acolhe. O importante é prevalecer sempre a pedagogia do encontro, do diálogo, da solidariedade e da inclusão. Tais são os pilares de quem fala com sabedoria e ensina com amor.

 

Com benção de pai e pastor,

assinatura-dp

 

A Constituição Dogmática Dei Verbum do Concílio Vaticano II, recomenda vivamente a leitura assídua da Sagrada Escritura. Exorta todos os fiéis cristãos, religiosos e consagrados a esta frequente leitura (cf DV, 25). Como seria possível viver sem o conhecimento das Escrituras, se é por elas que se aprende a conhecer o próprio Cristo? Se de um lado a Bíblia nos ajuda a conhecer mais a figura e a pessoa de Cristo; de outro, ela ajuda a entender e aprofundar aquilo que vivemos em Cristo, isto é, ela nos ajuda a decifrar o sentido de nossa vida cristã. Por isto, a leitura orante da Palavra de Deus, também chamada de sentido espiritual, nos ajuda a descobrir como a Palavra de Deus, dita em linguagem humana, continua a nos falar no hoje de nossas vidas. Aqui reside a inesgotável riqueza e atualidade da Palavra de Deus.

A cada leitura atenta da Bíblia, percebemos a inesgotável riqueza da Palavra de Deus. O povo cristão procura e encontra na Bíblia “o conhecimento de Deus e do homem e o jeito pelo qual o justo e misericordioso Deus trata com os homens” (DV, 15). Podemos dizer que ela é a revelação da graça e da misericórdia de Deus (cf DV, 2).

A importância e significado primeiro da Bíblia está no fato de Deus se revelar, isto é, de se dar a conhecer no diálogo que estabelece conosco. Ele nos fala como a amigos e nos convida à comunhão com Ele. Mas não podemos nos esquecer que uma autêntica leitura da Bíblia deve ser sempre acompanhada pela oração, a fim de que se estabeleça o já mencionado colóquio entre Deus e nós. Neste sentido, é que vemos crescer cada vez mais entre os fiéis, a leitura orante da Bíblia. No silêncio e na oração, ouvimos Deus que nos fala. Assim, o mesmo Espírito que falou por meio dos Profetas, sustenta e inspira a Igreja no dever de anunciar esta mesma palavra acolhida e meditada. O testemunho e o anúncio da Palavra de Deus é a melhor forma de o homem responder à iniciativa de Deus que vem ao seu encontro e dialoga através de suas palavras (cf VD, 24).

A Conferência dos Bispos do Brasil, através da comissão episcopal para a animação bíblico-catequética, propõe a leitura da Carta de São Paulo aos Gálatas, cujo tema é: “Pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3, 28). Nesta carta o Apóstolo Paulo destaca o valor da unidade de todos os cristãos, sejam estes de origem judaica ou pagã; já que pelo batismo somos todos filhos e filhas de Deus. Justificados pela fé, vivemos uma só unidade em Jesus Cristo. Todos os cristãos são filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, porque no batismo somos todos revestidos de Cristo (Gl 3, 27). O batismo nos faz novas criaturas em Cristo e, assim, somos incorporados no único corpo de Cristo.

Ao comemorarmos os 50 anos do Mês da Bíblia no Brasil, a leitura e reflexão da Carta de São Paulo aos Gálatas devem inspirar nossas comunidades eclesiais a renovarem o espírito de acolhida, unidade e reconciliação. “Aquele que recebe o ensinamento da Palavra torne quem o ensina participante de todos os bens. Portanto, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos, principalmente aos da família da fé” (Gl 6, 6.10).

Numa época de urgente cuidado e abertura ao outro, a leitura e medição deste livro poderão auxiliar na superação do indiferentismo; indispensável aos membros do Povo de Deus e para um autêntico anúncio da Palavra, pois ela se torna eficaz quando traduzida no amor e no serviço ao próximo, sobretudo aos mais vulneráveis.  Amar o próximo é, num só tempo, a prova de que temos fé e o resumo de toda moral (Gl 5, 6-7). “Deus que não é indiferente, intervém na história a favor do homem e da sua salvação integral” ( Verbum Domini, 23).

Que o lançamento da semente da Palavra de Deus encontre terrenos férteis, a fim de fecundar o coração de todos, favorecendo o surgimento de uma humanidade renovada, aberta a Deus e aos irmãos.

Sky Bet by bettingy.com