Quaresma, Fraternidade e o cuidado com a vida.

Braso D. Pedro

O tempo da quaresma como renovação da vida cristã, nos convida a reencontrar o nosso verdadeiro rosto cristão através da oração e da caridade, a fim de modelarmos nossa imagem àquela de Cristo. Deste modo, poderemos viver uma comunhão mais profunda no mistério da Morte e Ressurreição de Cristo. É tempo de percorrermos o itinerário batismal de penitência e conversão. Tempo liturgicamente forte de mudança de vida, que nos insere ainda mais neste Mistério. Os quarenta dias de “deserto” é tempo de graça e de benção, marcado pela escuta da Palavra de Deus e da reconciliação com Deus e com os irmãos. É um tempo em que a Igreja, com amorosa insistência, nos chama à mudança de vida. Tempo de oração, jejum, de partilha e de gestos solidários em que direcionamos a misericórdia de Deus aos mais necessitados.

Para nós cristãos, todos os dias deste tempo rico nos anima e faz com que olhemos mais de perto a nossa vida e a nossa condição. A conversão é um processo permanente, tanto em nível pessoal quanto social. Por isso, conversão significa uma mudança de sentido ou de rumo. Acreditamos que nunca é tarde para optar pelo bem e abandonar o mal, pois Deus, no seu amor infinito e misericordioso, está sempre pronto a nos acolher e abraçar. Nosso itinerário é sempre o de retorno ao primeiro amor e à fonte de todo bem e de toda graça. Esta é a razão pela qual repetiremos, incansavelmente, neste recolhimento espiritual, a célebre passagem bíblica: “É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (2Cor 6, 2).

A mensagem do Papa Francisco para a quaresma deste ano será de grande contribuição para percorrermos este itinerário: “O Senhor concede-nos também neste ano, um tempo propício para nos prepararmos para celebrar, de coração renovado, o grande mistério da morte e ressurreição de Jesus, cerne da vida cristã pessoal e comunitária. Com a mente e o coração, devemos voltar continuamente a este Mistério. Com efeito, o mesmo não cessa de crescer em nós na medida em que nos deixarmos envolver pelo seu dinamismo espiritual e aderirmos a ele com uma resposta livre e generosa. Por isso, neste tempo favorável, deixemo-nos conduzir como Israel ao deserto, para podermos finalmente ouvir a voz do nosso Esposo, deixando-a ressoar em nós com maior profundidade e disponibilidade. Portanto, não deixemos passar em vão este tempo de graça, na presunçosa ilusão de sermos nós o dono dos tempos e modos da nossa conversão”.

E para isso, a Igreja do Brasil, iluminada pelo Espírito Santo e atenta à realidade em que vivemos, nos propõe neste ano um tema desafiador para nossa caminhada de conversão: Fraternidade e vida: Dom e compromisso; e como lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Jo 10, 33-34). Ela recorda que não devemos separar o caminho da conversão do serviço aos irmãos e irmãs. A vida é dom e compromisso. Não se pode viver a vida com indiferentismo no tocante às dores de tantos irmãos e irmãs. Neste sentido, a Santa Dulce dos pobres, foi um exemplo para todos nós, pois soube viver e testemunhar o amor de Deus pelos pobres e sofredores; lutando pela vida e dignidade de cada pessoa (CF, texto-base, p. 9). “A misericórdia, diante de uma vida humana em situação de necessidade, é a verdadeira face do amor” (Papa Francisco, Angelus. 08/08/2019). Jesus será sempre a referência do bom samaritano que se aproxima dos homens e mulheres que sofrem, a fim de restituir-lhes a dignidade perdida e, assim, vencermos o crescimento da indiferença no mundo.

A Campanha da Fraternidade nos apresenta também quatro propostas de programa quaresmal, a saber: 1) escuta da Palavra que converte o coração; 2) verdadeira atenção pelos outros; 3) romper com a indiferença frente ao sofrimento; 4) disponibilidade para o serviço. Estas quatro propostas nos responsabilizam ainda mais sobre o direito e a defesa da vida em todas as suas fases, do nascimento até a sua morte natural. Cristo é sempre o melhor caminho de uma vida nova. Ele mesmo se revela para nós como caminho, verdade e vida! (Jo 14, 6).

Por fim, o objetivo da Igreja com o referido tema da Campanha da Fraternidade, é o de chamar a atenção para os desafios e problemas referentes à vida e à violência; suas causas e possíveis caminhos de superação, sempre à luz da Fé. Sejamos arautos da paz e construtores da civilização do amor e de um mundo novo, sendo a voz da verdade e da liberdade. A vida deve ser dom de Deus e compromisso na sua preservação. Digamos “não” à cultura da violência e da morte. Que o Deus da paz e da vida abençoe a todos. Uma frutuosa Quaresma a toda nossa comunidade diocesana.

Com benção paternal,

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