Os desafios no caminho da santidade

brasao-dom-pedroA santidade, segundo a Exortação Gaudete et Exsultate, é como um itinerário próprio dos batizados com momentos diferentes, com seus aspectos pessoais e comunitários de amizade com Deus. Neste sentido, o segundo capítulo da Exortação nos chama a atenção sobre duas falsificações ou perigos que podemos encontrar na busca da santidade. O primeiro é o Gnosticismo, que seria uma visão religiosa fechada em um subjetivismo, no qual “a pessoa fica enclausurada na imanência da sua própria razão ou de seus sentimentos” (G E, n. 36). Esta concepção orienta a pessoa a uma imagem de santidade baseada no conhecimento e não tem nenhuma repercussão ou relação com a vida pessoal e comunitária. É uma espiritualidade engessada em um aspecto quantitativo do conhecimento. Esta, além de ser desencarnada, “pretende reduzir o ensinamento de Jesus a uma lógica fria e dura que procura dominar tudo” (G E, n. 39). Em síntese, é uma tentativa de dominar pelo conhecimento, não só os outros, mas o próprio Mistério de Deus. O apelo do Papa Francisco é o de permitirmos ser guiados mais pelo Espírito do que pelos nossos raciocínios.

O segundo perigo é o Pelagianismo, que pensa possuir a salvação ou santidade através de suas próprias ações. Na verdade, esta concepção errônea atribui a salvação a um mero esforço humano. Aqui também ocorre um individualismo centrado no sujeito autônomo, já que toda forma de realização depende somente das forças humanas. Perde-se a consciência de que “a escolha de Deus não depende da vontade ou dos esforços do ser humano, mas somente de Deus que usa de misericórdia” (Rm 9,16).

Uma das características da sociedade pós-moderna é o individualismo exagerado, marcado por uma falta de reconhecimento sincero dos nossos limites e que, segundo Papa Francisco, impede a graça de Deus atuar melhor em nós (CF. G E, n. 50). Tal pretensão nos leva a confiar pouco na atuação da graça de Deus em nós. É importante salientar a necessidade de nos abrirmos a esta graça, pois é ela que nos transforma e faz com que cresçamos no caminho da santidade. É a graça de Deus que sempre nos antecede. Ela “ultrapassa as capacidades da inteligência e as forças da vontade humana” (CIC, n. 1998). Cabe aqui lembrar que sua misericórdia por nós é infinita. Pretender colocar a graça da santidade na pura vontade humana é, no mínimo, uma autorreferencialidade exagerada e desprovida de sentido. “É querer submeter a vida da graça a certas estruturas humanas” (G E, n. 58), e isto é uma forma sutil de pelagianismo ainda presente entre nós.

Não podemos nos esquecer da lei máxima do cristão que é a caridade. Ela nos obriga a traduzir a fé em gestos concretos e testemunhais. Ela é “a fé agindo pelo amor” (GL 5, 6). O amor cristão é o cumprimento perfeito da lei e não deixa espaço para uma religião vazia e desencarnada. Que o Senhor nos liberte destes obstáculos no itinerário para uma autêntica santidade, mesmo que o mundo tente nos seduzir para outro estilo de vida que não nos configure com aquela indicada por Cristo, Caminho, Verdade e Vida.

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